sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma Real Vila Viçosa Poética...


Porque também eu faço parte dela, como ela de mim, nas recordações de infância, na genealogia presente, na sua riqueza cultural e no sangue real que lhe corre nas azuis veias encorpadas num sublime rosa mármore... Hoje, uma encantadora sugestão de minha autoria. Bem-vindos a este nosso Real Alentejo Calipolense!

Vila Viçosa é uma bonita Vila Alentejana, sede de concelho, com uma rica história e um património invejável, sendo mesmo conhecida por Princesa do Alentejo
Desde cedo ocupada pelo homem, Vila Viçosa apresenta vestígios arqueológicos desde tempos pré-históricos, tendo sido ocupada pelos romanos e muçulmanos até ser conquistada em 1217, durante o reinado do rei D. Sancho II. Foi em 1461 que Vila Viçosa viu enriquecido o seu território, ao passar a fazer parte do ducado de Bragança, e em 1502 inicia-se a construção do Paço Ducal de Vila Viçosa, o seu mais emblemático monumento.



Em 1910, com a Proclamação da República, Vila Viçosa caiu em franca decadência, devido ao objectivo dos republicanos em apagar todos os vestígios da monarquia, conseguindo contudo, já na década de 30, reerguer-se muito devido à exploração de uma das suas maiores riquezas: os Mármores, mas também ao início da indústria turística, abrindo-se o Paço Ducal com esse intuito. De facto, Vila Viçosa é conhecida mesmo internacionalmente pela abundância de mármore na região, nomeadamente o rosa, extraído e explorado a partir de mais de 160 pedreiras. Localizada numa das regiões mais férteis do Sul de Portugal, Vila Viçosa apresenta inúmeros monumentos de grande interesse, destacando-se o Castelo do século XIII, a bonita Igreja Matriz, a Igreja e Convento dos Agostinhos, os Conventos de Santa Cruz, Capuchos, da Esperança ou o renascentista Convento das Chagas, bem como as muitas casas apalaçadas decoradas com o tradicional mármore, e a grande herança manuelina por entre pormenores arquitectónicos da vila. A oferta museológica é também variada, com destaque para o Museu do Mármore, o dos Coches, o de Arqueologia e o de Arte Sacra, não esquecendo o Museu da Caça, que tanto se adequa a estas paragens, com a sua Tapada Real, o antigo couto de caça dos duques com um perímetro de 18 quilómetros, de grande beleza. Entre as várias personalidades naturais de Vila Viçosa, destaca-se a poetisa Florbela Espanca, precursora do movimento feminista em Portugal, e autora de fabulosas obras de arte, conseguindo levar a glória da Vila mais além. 

Meio-dia. O sol a prumo cai ardente,
Dourando tudo…ondeiam nos trigais
D´ouro fulvo, de leve…docemente…
As papoulas sangrentas, sensuais…
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o ouro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros…
Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador…
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
(in No Meu Alentejo - Florbela Espanca)

FerdoS
(Photos by Marco Coelho e Carlos Silva)

Quantas viagens e mochilas depois Bruce Chatwin?!...

“Esta manhã não tenho nenhuma religião em especial. Meu Deus é o Deus dos Caminhantes. Se alguém caminhar o suficiente, é bem provável que não necessite de nenhum outro Deus.”


Chatwin, autor de “Na Patagónia”, “O Vice-rei de Ajudá” , “Que Faço eu Aqui” e “ O Canto Nómada”, entre outros, nasceu em 1940 e morreu de sida em 1989. Trabalhou como jornalista no Sunday Times Magazine e ficou famosa a sua carta de demissão onde escreveu apenas, “Fui para a Patagónia”. Foi antiquário mas principalmente viajante e atraía tanto homens como mulheres com o seu ar de rapaz atrevido – na realidade, Chatwin era totalmente narcísico e havia nele qualquer coisa de "podre" como afirma Dwight Garner. O mais interessante tem a ver com as suas incontáveis viagens solitárias, os seus hábitos pouco "ortodoxos" – conta-se que fazia caminhadas pelo campo, nu, com botas e flores atadas ao pénis – a sua amizade com Susan Sontag – que dizia que Chatwin era o único amigo capaz de partilhar com ela uma refeição em Chinatown de "intestinos fritos e unhas dos pés" – e com Paul Theroux. Foi através de Sontag que poderá ter conhecido Sam Wagstaff, o patrono e amante de Robert Mapplethorpe que Chatwin dizia ter sido quem o infectou com o HIV – outras vezes contava que tinha sido repetidamente violado no Daomé. Na sua correspondência, torna-se visível o tipo de relação que teve com a mulher de quem viveu separado a maior parte do tempo – casaram em 1965 – mas que o tratou devotadamente durante a doença. Uma personagem complexa e trágica que provocou polémicas devido ao facto de nem sempre descrever as culturas, as pessoas e os lugares que conheceu com objectividade. Ao fim e ao cabo Chatwin era um escritor e não um sociólogo, historiador ou antropólogo…


Eis um livro que podemos classificar como um marco na literatura odepórica moderna: Na Patagónia, de Bruce Chatwin. Publicado em 1977 foi a primeira obra escrita pelo autor inglês e a que o consolidou como um dos grandes travel writers britânicos de todos os tempos.
O que diferencia essa obra de tantas outras narrativas de viagem? Algumas particularidades, entre elas a habilidade de Chatwin em misturar no seu relato de viagem a ficção com a realidade; essa obra marca um novo olhar sobre os relatos de viagem, onde o narrador sente-se livre para interpretar aquilo que vê e vivência sem se prender à realidade absoluta das circunstâncias. É claro que isso, em algum momento, poderá desagradar a algumas pessoas, particularmente aquelas que fazem parte da história, como de facto aconteceu com Chatwin (alguns dos personagens entrevistados disseram mais tarde que suas conversas com o escritor não aconteceram da forma como foram relatadas).
Para Chatwin existem algumas chaves de leitura para que se possa captar melhor o propósito de sua obra. Para ele, a Patagónia é o lugar mais distante que o homem caminhou desde o seu local de origem, sendo por essa razão um símbolo de inquietação, de desassossego. Na opinião de Chatwin, a descoberta da Patagónia teve o mesmo efeito na imaginação do homem que a chegada à lua, de forma ainda mais poderosa.
Na Patagónia o autor intercala passagens históricas e lendárias relacionadas aos lugares pelos quais vai deambulando, e isso contribui muito para que se crie na nossa mente o imaginário de uma Patagónia quase mítica, como se essa região do planeta fosse de facto um fim do mundo para onde se dirigem todos os exilados do planeta, para onde vão aqueles que já não encontram o seu espaço na sociedade. Para esses, a vida só tem sentido na solidão, entendida aqui nos seus aspectos mais diversificados (geográfica, social, familiar, espiritual...). Uma obra grandiosa, Na Patagónia é uma lição para quem quiser aprender como escrever um relato de viagem com muito estilo e categoria.


FerdoS 
(Desenho: Shawn Yu / Textos: Comunidade de leitores e P.Césare )

sábado, 6 de agosto de 2011

Rotas e Percursos de grandes cidades em BD...

A partir de 13 de Julho, o Público começou a distribuir à quarta-feira uma série de sete guias consagrados a Veneza, Roma, Nova Iorque, Florença, Marraquexe, Praga e Bruxelas. A colecção Rotas e Percursos é uma iniciativa conjunta com as Edições Asa, composta por guias com itinerários urbanos que têm a particularidade de serem ilustrados por grandes nomes da BD mundial. Desenhos originais, planos das cidades vistos à lupa, informação sobre os bairros históricos, dicas sobre lugares pouco conhecidos, curiosidades e histórias da cidade são alguns dos conteúdos destes livros onde as fotografias foram integralmente substituídas por ilustrações e imagens de banda desenhada. Os roteiros dos dois primeiros títulos são feitos na companhia de Corto Maltese e Alix.
Se perdeu os primeiros volumes, não desespere, pode sempre encomendar os que estão em falta numa banca perto de si. Recomendo sim :)
by FerdoS (Kuentro e Fugas)