terça-feira, 30 de março de 2010

De Guimarães...a Guimarães!


Aproveitando uma visita ao berço da Nação, eis que dou por mim de Guimarães... a Guimarães!
E que cruzamento de estados, tempos e emoções!...
Partilho-vos o José, o Paço e o Castelo, todos eles parte Una de Guimarães...
Do nascente ao poente, crepúsculos, frio e quente...e que estranho dia de intensas sensações!
...
José Maria Fernandes Marques nasce em 1939, em Guimarães. No inicio de 60 adopta o pseudónimo de José de Guimarães e cedo se começa a interessar pelas artes plásticas, considerando-se sempre autodidacta. Seguidor incondicional da Arte Pop e que acabará por estar sempre presente no seu trabalho.
A grande transformação no seu percurso artístico dá-se quando parte para Angola em 1967, em serviço militar. Pouco tempo depois publica o manifesto Arte Perturbadora: Manifesto aos Pintores Inconformistas, demonstrando o impacto que a arte africana primitiva teve sobre o seu espírito. Começa a incorporar máscaras e fetiches nos seus trabalhos, desenvolvendo uma pintura simbólica.
Na década de 80, produz as obras que ficaram conhecidas como pseudo-esculturas , realizadas num papel manufacturado pelo próprio artista. Consideradas como fetiches, totens ou ídolos, são uma demonstração da consciência do valor simbólico da escultura e que constituem dois lados de uma mesma realidade: Nocturno/Diurno, Luminoso/Sombrio. Posteriormente acrescenta a estas personagens materiais brilhantes, como espelhos e vidros moídos.
Cria e agracia o mundo com a série México, realizada após uma viagem a este país em 1993, na qual incorpora caveiras, serpentes, sóis mitológicos, os Chac Mool (designação dada a um tipo de estátuas de pedra pré-colombianas mesoamericanas) e, principalmente, os tradicionais papeles picados (papéis recortados), demonstrando o fascínio pela cultura local. De igual modo seria a série Hong Kong. 
A sua apetencia por temas históricos será outra das características do trabalho de José de Guimarães. Disso é exemplo D.Sebastião, as séries Camões e Rubens numa Arte Pop que nos propõe uma desmistificação da figura histórica através da paródia e do humor. 
A partir de 1992, surgem as Caixas-Relicários, nas quais coloca fetiches africanos, fragmentos materiais de várias espécies e objectos de consumo moderno, numa tentativa de uma nova sacralização, de tendência Neodadaísta, Pop ou mesmo Kitsch. 




O Paço dos Duques de Bragança é uma majestosa casa senhorial mandada construir no século XV por D. Afonso, futuro Duque de Bragança e filho do Rei D. João I. Está situada nos arredores do Castelo de Guimarães e trata-se de um exemplar único na Península Ibérica de arquitectura senhorial da Europa Setentrional, caracterizada pela grandeza dos seus edifícios e pelas suas numerosas chaminés cilíndricas. Foi utilizado como quartel militar no século XIX e reconstruído em várias ocasiões, sendo a mais significativa a ocorrida entre os anos de 1937 e 1959, ano em que é aberto ao público e transformado em museu, abrigando restos dos séculos XVII e XVIII. Todo o edifício está classificado como Monumento Nacional desde finais do século XIX.




O castelo de Guimarães está simbolicamente associado à fundação do reino de Portugal, ainda que a sua construção seja anterior e remonte à condessa Mumadona (finais do século X). Estrategicamente localizado, domina o centro histórico, do alto de uma colina. O edifício actual é o resultado de reconstruções sucessivas a partir da segunda metade do século XIII e que culminaram nas campanhas dos Monumentos Nacionais, nos anos 40. Aqui se fixaram D. Henrique e D. Teresa, pais de D. Afonso Henriques, que viria a ser o primeiro rei de Portugal. A muralha tem oito torres ameadas delimitando um pátio, em cujo centro se eleva a torre de menagem, com 27 metros de altura.


"O Monte Latito, onde o Castelo está situado, é conhecido também como a "Colina Sagrada", devido à existência não só do próprio Castelo como também do Paço dos Duques de Bragança e da Igreja de São Miguel." - In Portugal Eterno

FerdoS

quarta-feira, 24 de março de 2010

Malangatana... Um Artista pela Paz.


A coruja agoira-me
e diz-me que nunca chegarei
além onde o desejo me leva
e assim evapora-se o sonho;

O tambor foi tocado
na noite densa do feitiço
enquanto Kokwana Muhlonga
apitava o Kulungwana mortal;

Na noite sem estrelas
dois gatos pretos iluminaram a cabana da Kokwana Hehlise
que morreu depois dos gatos terem miado.

Eu lutando comigo só
é impossível vencer as ondas
que feitiçeiramente me esboçam
as corujas, gatos e tambores.

Poema de Malangatana


Natural de Matalana, no sul de Moçambique, onde nasceu em 6 de Junho de 1936. Fez os primeiros estudos na Escola da Missão Suíça de Matalana e na Escola da Missão Católica de Ntsindya, em Bulaze. Aos 12 anos foi viver para Lourenço Marques (actual Maputo), onde veio a frequentar o Núcleo de Arte. Em inícios de 60 efectuou a sua primeira exposição individual.
Criador multifacetado, o trabalho de Malagatana atesta inegavelmente o vigor das suas raízes africanas. Essencialmente autodidacta, produziu uma vasta obra no campo da pintura e é hoje um dos artistas africanos mais reconhecidos no plano internacional.
O trabalho de Malangatana projecta uma visão ousada da vida onde há uma comunhão entre homens, animais e plantas. Baseia-se na sua herança mas simultaneamente abraçando símbolos de modernidade e progresso, síntese entre arte e política.Também desenvolveu actividade artística nas áreas da dança, música, poesia (revista 'Black Orpheus' e antologia 'Modern Poetry from Africa', por exemplo), teatro, tapeçaria, cerâmica, escultura e murais.


Entre inúmeras distinções, recebeu a Medalha Nachingwea pela contribuição dada à cultura moçambicana e é Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Foi ainda galardoado pela Unesco enquanto artista pela paz, e foi-lhe atribuído o Prémio Príncipe Claus da Holanda, pela sua grande influência nas artes (sendo também um dos fundadores do Movimento para a Paz).
O reconhecimento do seu estatuto está presente na declaração proferida pelo Director-Geral da UNESCO, Federico Mayor ao entregar-lhe a distinção: 
'Muito mais do que um artista, é alguém que demonstra que existe uma linguagem universal, a Linguagem da Arte, que permite comunicar uma mensagem de Paz.'

FerdoS

domingo, 21 de março de 2010

As Sombras de Kumi Yamashita...


"Shadows are a fine medium for someone who believes more in variability ... than in constancy, a stance that may be temperamental as well as philosophical."
Kumi Yamashita 


Estas são as obras de Kumi Yamashita.
Ao utilizar iluminação e formas simples, como as letras do alfabeto, blocos infantis e pegadas, o artista traz à tona a vida nas sombras. Nascido no Japão, mas vivendo grande parte de sua vida no estrangeiro, Kumi usa uma visão delicada para criar uma simplicidade que ludibria os seres de vida.
Fantástico!...
Num jogo de sombras apetece dizer 'Wooow!!!'

FerdoS

sexta-feira, 12 de março de 2010

Corredor de Celas...

( Corredor de Celas - 1993 - 95x95 - Colecção privada 8396 )
ϜSΣRRANΦ ©

Humanos!... HUMANOS!!... HUMANOS!!!
... 
"The cells were dirty and the corridors and stairwells were littered with rotting refuse. Moreover, notwithstanding the concerted cleaning efforts which prisoners claimed had taken place immediately prior to the delegation's visit, the communal lavatories in the unrenovated Wings were in an irredeemably feculent condition."
 
in European Convention for the Prevention of Torture and Inhuman or Degrading Treatment or Punishment
...
Corredor de Celas
Pobres os que o habitam, de paz e de espírito, de fortuna, pois de Direitos Humanos aqui falamos.

FerdoS

sexta-feira, 5 de março de 2010

Rijksmuseum Amsterdam...


E porque Fevereiro foi um mês tão intenso e especial, em jeito de prendinha, eis que dei por mim a coleccionar pérolas de cores, aromas e sabores em Amesterdão.
Primeira vez sim, mas já a pensar em regressar...
Viagem de passeio, de conhecimento universal, mas também de prazeres numa vertente cultural. Não me refiro ao Red District obviamente, embora tenha ido também por lá espreitar. Spicy yes! ;)
Tanto e tanto a visitar...
Hoje vou destacar 'apenas' o Rijksmuseum, e outros se seguirão, pois o diário dessa viagem será publicado num já conhecido Evão
(http://evao_e_ada.blogs.sapo.pt/).


O museu Rijksmuseum (Museu Nacional), fica num edifício histórico junto ao canal Singel, é o maior museu da Holanda, sendo visitado por mais de um milhão de pessoas/ano, e apresenta uma enorme colecção de quadros dos grandes mestres holandeses, Jacob van Ruysdael, Frans Hals, Johannes Vermeer e Rembrandt, incluíndo a Natureza-Morta de Jan van Huysum, de que eu não sou grande fã...
Nee meneer!
The Masterpieces é o nome dado a esta grande colecção dos maiores mestres holandeses, absorvendo uma enorme parte da ampulheta de uma nossa estadia por esta Veneza do Norte.
The Tavern Scenes dá uma idéia de como seria estar numa taberna do século XVI e XVII. Tabernas, feiras, folias citadinas e festas de acompanhamento e combate, foram os temas preferidos para esta mostra. 
Relembro-vos ainda a ala dedicada ao muy famoso Rembrandt  'A Ronda da Noite'. 


Voltando ao museu, o Rijksmuseum é dedicado às artes e à história da protestante Holanda, e tem uma larga colecção de pinturas da idade de ouro holandesa e uma substancial colecção de arte asiática, com algumas referências a Portugal e aos nossos épicos Caminhos Marítimos de outros tempos. 
Ahhh!...já me esquecia!...foi fundado em 1800 na cidade da Haia para exibir a colecção de um famoso primeiro-ministro e em 1808 mudou-se para Amesterdão pelas ordens do Rei Louis Napoleon, irmão de Napoleão Bonaparte, mas apenas em 1885 se mudou para a sua localização actual. Construído pelo arquitecto holandês Pierre Cuypers que combinou elementos góticos e renascentistas numa obra lindíssima. Aquando a minha visita, o edifício principal estava a ser renovado, o que lhe retirou algum encanto exterior (ver primeira foto), mas compensando no seu rico interior.
...
Perguntarem-me se aconselho, de sorriso estampado vos digo,
'É para quando este Masterpieces regressar?!' 

FerdoS


quarta-feira, 3 de março de 2010

Estruturas Para Uma Revolução...


Escrevia assim um velho jornalista: 
"Há muito tempo atrás, existiu uma Época em que Acreditar era palavra-mor e Criar era essa acção em nome de um Crer grandioso... Nesse mesmo tempo, nesse mesmo lugar, um pequeno grupo de jovens guerreiros partiu numa demanda sem fim... Acreditavam que o mundo real não teria que ser necessariamente todo igual, em tons de cinza acizentado, de branco opaco, de escuro preto, enfim... assim! 
E, sem hesitar, Acreditando e Criando, resolveram-no transformar!" 


"Pintaram, coloriram, instalaram, chocaram!... E diziam os mortais que até agradaram!
A diferença não consegue passar indiferente... E registada terá ficado.
 O tempo passou, as vontades, e o mundo mudou... e, para alguns, o opaco-escuro-cinza venceu! 
Para esses, o Acreditar fundiu-se nas trevas de um Festim  de Burroughs...
De entre esses, uma porção, escolheu o mais simples, ser igual ao igual, 'Choose Life!', gritavam, seguindo o lema final daquele Underground...
E, nesse antigo Acreditar, sobreviveu um adormecido guerreiro, agora desperto gladiador, e é desse homem que vos queria falar... "
(A sua história foi então narrada numa longa jornada, digna de destaque nas páginas centrais)  

 

...
"A essa demanda deram um nome, 'Estruturas para uma Revolução', e nos anais do tempo, conhecida assim ficou, sendo recordada aqui, hoje, por mim."
... 
E esse senhor da escrita, fechou o bloco de notas onde se podia ler IPS na contracapa, e no dia seguinte publicou-a num semanário, percorrendo hoje as bancas perto de mim, de ti, de si.

FerdoS