sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma Real Vila Viçosa Poética...


Porque também eu faço parte dela, como ela de mim, nas recordações de infância, na genealogia presente, na sua riqueza cultural e no sangue real que lhe corre nas azuis veias encorpadas num sublime rosa mármore... Hoje, uma encantadora sugestão de minha autoria. Bem-vindos a este nosso Real Alentejo Calipolense!

Vila Viçosa é uma bonita Vila Alentejana, sede de concelho, com uma rica história e um património invejável, sendo mesmo conhecida por Princesa do Alentejo
Desde cedo ocupada pelo homem, Vila Viçosa apresenta vestígios arqueológicos desde tempos pré-históricos, tendo sido ocupada pelos romanos e muçulmanos até ser conquistada em 1217, durante o reinado do rei D. Sancho II. Foi em 1461 que Vila Viçosa viu enriquecido o seu território, ao passar a fazer parte do ducado de Bragança, e em 1502 inicia-se a construção do Paço Ducal de Vila Viçosa, o seu mais emblemático monumento.



Em 1910, com a Proclamação da República, Vila Viçosa caiu em franca decadência, devido ao objectivo dos republicanos em apagar todos os vestígios da monarquia, conseguindo contudo, já na década de 30, reerguer-se muito devido à exploração de uma das suas maiores riquezas: os Mármores, mas também ao início da indústria turística, abrindo-se o Paço Ducal com esse intuito. De facto, Vila Viçosa é conhecida mesmo internacionalmente pela abundância de mármore na região, nomeadamente o rosa, extraído e explorado a partir de mais de 160 pedreiras. Localizada numa das regiões mais férteis do Sul de Portugal, Vila Viçosa apresenta inúmeros monumentos de grande interesse, destacando-se o Castelo do século XIII, a bonita Igreja Matriz, a Igreja e Convento dos Agostinhos, os Conventos de Santa Cruz, Capuchos, da Esperança ou o renascentista Convento das Chagas, bem como as muitas casas apalaçadas decoradas com o tradicional mármore, e a grande herança manuelina por entre pormenores arquitectónicos da vila. A oferta museológica é também variada, com destaque para o Museu do Mármore, o dos Coches, o de Arqueologia e o de Arte Sacra, não esquecendo o Museu da Caça, que tanto se adequa a estas paragens, com a sua Tapada Real, o antigo couto de caça dos duques com um perímetro de 18 quilómetros, de grande beleza. Entre as várias personalidades naturais de Vila Viçosa, destaca-se a poetisa Florbela Espanca, precursora do movimento feminista em Portugal, e autora de fabulosas obras de arte, conseguindo levar a glória da Vila mais além. 

Meio-dia. O sol a prumo cai ardente,
Dourando tudo…ondeiam nos trigais
D´ouro fulvo, de leve…docemente…
As papoulas sangrentas, sensuais…
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o ouro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros…
Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador…
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
(in No Meu Alentejo - Florbela Espanca)

FerdoS
(Photos by Marco Coelho e Carlos Silva)

Quantas viagens e mochilas depois Bruce Chatwin?!...

“Esta manhã não tenho nenhuma religião em especial. Meu Deus é o Deus dos Caminhantes. Se alguém caminhar o suficiente, é bem provável que não necessite de nenhum outro Deus.”


Chatwin, autor de “Na Patagónia”, “O Vice-rei de Ajudá” , “Que Faço eu Aqui” e “ O Canto Nómada”, entre outros, nasceu em 1940 e morreu de sida em 1989. Trabalhou como jornalista no Sunday Times Magazine e ficou famosa a sua carta de demissão onde escreveu apenas, “Fui para a Patagónia”. Foi antiquário mas principalmente viajante e atraía tanto homens como mulheres com o seu ar de rapaz atrevido – na realidade, Chatwin era totalmente narcísico e havia nele qualquer coisa de "podre" como afirma Dwight Garner. O mais interessante tem a ver com as suas incontáveis viagens solitárias, os seus hábitos pouco "ortodoxos" – conta-se que fazia caminhadas pelo campo, nu, com botas e flores atadas ao pénis – a sua amizade com Susan Sontag – que dizia que Chatwin era o único amigo capaz de partilhar com ela uma refeição em Chinatown de "intestinos fritos e unhas dos pés" – e com Paul Theroux. Foi através de Sontag que poderá ter conhecido Sam Wagstaff, o patrono e amante de Robert Mapplethorpe que Chatwin dizia ter sido quem o infectou com o HIV – outras vezes contava que tinha sido repetidamente violado no Daomé. Na sua correspondência, torna-se visível o tipo de relação que teve com a mulher de quem viveu separado a maior parte do tempo – casaram em 1965 – mas que o tratou devotadamente durante a doença. Uma personagem complexa e trágica que provocou polémicas devido ao facto de nem sempre descrever as culturas, as pessoas e os lugares que conheceu com objectividade. Ao fim e ao cabo Chatwin era um escritor e não um sociólogo, historiador ou antropólogo…


Eis um livro que podemos classificar como um marco na literatura odepórica moderna: Na Patagónia, de Bruce Chatwin. Publicado em 1977 foi a primeira obra escrita pelo autor inglês e a que o consolidou como um dos grandes travel writers britânicos de todos os tempos.
O que diferencia essa obra de tantas outras narrativas de viagem? Algumas particularidades, entre elas a habilidade de Chatwin em misturar no seu relato de viagem a ficção com a realidade; essa obra marca um novo olhar sobre os relatos de viagem, onde o narrador sente-se livre para interpretar aquilo que vê e vivência sem se prender à realidade absoluta das circunstâncias. É claro que isso, em algum momento, poderá desagradar a algumas pessoas, particularmente aquelas que fazem parte da história, como de facto aconteceu com Chatwin (alguns dos personagens entrevistados disseram mais tarde que suas conversas com o escritor não aconteceram da forma como foram relatadas).
Para Chatwin existem algumas chaves de leitura para que se possa captar melhor o propósito de sua obra. Para ele, a Patagónia é o lugar mais distante que o homem caminhou desde o seu local de origem, sendo por essa razão um símbolo de inquietação, de desassossego. Na opinião de Chatwin, a descoberta da Patagónia teve o mesmo efeito na imaginação do homem que a chegada à lua, de forma ainda mais poderosa.
Na Patagónia o autor intercala passagens históricas e lendárias relacionadas aos lugares pelos quais vai deambulando, e isso contribui muito para que se crie na nossa mente o imaginário de uma Patagónia quase mítica, como se essa região do planeta fosse de facto um fim do mundo para onde se dirigem todos os exilados do planeta, para onde vão aqueles que já não encontram o seu espaço na sociedade. Para esses, a vida só tem sentido na solidão, entendida aqui nos seus aspectos mais diversificados (geográfica, social, familiar, espiritual...). Uma obra grandiosa, Na Patagónia é uma lição para quem quiser aprender como escrever um relato de viagem com muito estilo e categoria.


FerdoS 
(Desenho: Shawn Yu / Textos: Comunidade de leitores e P.Césare )

sábado, 6 de agosto de 2011

Rotas e Percursos de grandes cidades em BD...

A partir de 13 de Julho, o Público começou a distribuir à quarta-feira uma série de sete guias consagrados a Veneza, Roma, Nova Iorque, Florença, Marraquexe, Praga e Bruxelas. A colecção Rotas e Percursos é uma iniciativa conjunta com as Edições Asa, composta por guias com itinerários urbanos que têm a particularidade de serem ilustrados por grandes nomes da BD mundial. Desenhos originais, planos das cidades vistos à lupa, informação sobre os bairros históricos, dicas sobre lugares pouco conhecidos, curiosidades e histórias da cidade são alguns dos conteúdos destes livros onde as fotografias foram integralmente substituídas por ilustrações e imagens de banda desenhada. Os roteiros dos dois primeiros títulos são feitos na companhia de Corto Maltese e Alix.
Se perdeu os primeiros volumes, não desespere, pode sempre encomendar os que estão em falta numa banca perto de si. Recomendo sim :)
by FerdoS (Kuentro e Fugas)

sábado, 30 de julho de 2011

Escrever, Viajar e Ler com Moleskine...


A Moleskine, criadora dos mais míticos blocos de notas para viajantes, acaba de lançar três novas colecções para Escrever, Viajar e Ler que vão muito além dos tradicionais cadernos. Estes novos blocos, desenhados por Gilio Iacchetli, incluem canetas e lápis, mas não só.
Chegam com malas e sacos, óculos e suportes de leitura, além de lanternas recarregáveis através de ligação USB. A ideia é criar um "pacote de ferramentas de fruição cultural e vida nómada", explica a marca. Mas, apesar de surgirem com um toque de alta tecnologia, "os novos acessórios mantêm muitas das características familiares dos cadernos Moleskine", como o elástico, a cor preta e até a etiqueta in case of loss (em caso de perda).


Além disso, são destacáveis, o que possibilita a personalização de cada bloco como um único. Apresentadas em Portugal na semana passada, na LX Factory, em Lisboa, as colecções Moleskine Writing, Travelling and Reading já estão disponíveis em livrarias e lojas um pouco por todo o país.


Em Setembro, há mais novidades do mundo Moleskine e com toque luso: chegam os cadernos Cover Art, desenhados pelo português Ricardo Cabral.

Moleskine... loved by FerdoS ( Words by Carla B. Ribeiro Fugas )

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Recordando uma deliciosa Seia de ARTIS...

O Festival ARTIS X, decorreu entre 7 de Maio e 5 de Junho de 2011, na Casa Municipal da Cultura de Seia e noutros espaços alternativos da cidade de Seia e para além da Exposição de Pintura e Escultura deste concurso, teve ainda a decorrer Mostras de Pintura, escultura e fotografia de artistas locais, num total de mais de 100 obras expostas.
Um convite à Arte, à sua gastronomia, às suas gentes, à cidade e obviamente à região. Excelente!


Eis a lista dos artistas que foram seleccionados para o concurso Salão de Artes Plásticas de Seia:

Fernando Serrano, Setúbal; Adriana Matos, Azambuja; Josil - Fortaleza (Brasil); José Constantino, Maia; Maia Caetano, Pinhel; Carlos Osório, Porto; Mariana Moura, Paço D’Arcos; Migvel Tepes, Povoa de Varzim; Ricardo Sanches, Soito; Rita Roque, Linda-a-velha;

Florentina Resende, Rio Tinto; Gina Valente, Vila Verde de Ficalho; Paula Aniceto, Santa Maria da Feira; Rui Tavares, Vila Real; Amie, Oliveira do Hospital; José Mário Santos, Maia; Bruno Soares, Viseu; Carina Alexandre, Seia; Carolina Chamusqueiro, Matosinhos;

Ana Garcia, Oliveira de Azeméis; Angela Belindro, Lisboa; José Rosinhas, Porto; Susana Stoyanova, Oeiras; Ricardo Cardoso, Seia; Adelino Cunha, Seia; Ana Carvalhal, Seia; Anabela Paiva, Maia; António Nogueira, Seia / Carapinheira; Belarmino Morgadinho, V. N. Poiares;


Daniel Lopes, Seia; Fernando Saraiva, Figueira da Foz; Hugo Maciel, Quinta do Conde, Sesimbra; Iliana Menaia, Ponte de Sor; José Carlos Marques, Oliveira do Hospital; Lucas Ressurreição, Seia; Patrícia Franco, Vila Nova de Gaia; Pedro Ribeiro, Seia; Virgínia Pinto, Seia.


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mary Jane...


Pensei dizer que nasceu a norte do Tejo, LX sim, que cria os seus trabalhos a sul do mesmo, perto daqui e dali, mas será melhor simplesmente descobri-la. Mary Jane... 
Pensei em falar na sua formação no AR.CO, na ARTES-A, nas suas Artes Gráficas, no seu gosto pela pintura... pensei. 
Mas, por vezes, algumas vezes, merecemos sentir, descobrir e procurar. Mary Jane... sometimes.


Aquando a sua esposição individual na ESE, numa data ainda fresca e nessas bem adornadas paredes, podia ler-se de si e um pouco mais entender...
...
"A sua inclinação humanista revela-se com vigor nos quadros executados. No seu processo criativo vai revelando as expressões e semblantes como concepção artistica, representando e afirmando a sua opção temática da figura humana, do figurativo que será o fio condutor da sua obra mais recente."
...
Maria João Galvão... 
Na bela Arte e na rica Amizade, Mary Jane no Azul assim ficou.



 by FerdoS

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Parlez moi d'Amour...


Num instante anunciado deixei-me levar
Leve como uma branca e cintilante pluma
Como a suave brisa que sinto junto de ti
Deixei-me sentir nesse momento de tocar

O grão de tempo deu lugar a mais um e mais outro
Seguindo-se um outro e depois alguns mais
E quando realmente do eterno sono despertei
Seria pouco toda essa vida e efémera demais

Na revolução esperada no interior o vento soprou
Forte e vibrante, intenso e apaixonante
Ergueu as calmas ondas de um sabor a mar
E varreu todo o passado e agora presente

Mil e um tempos se passaram entretanto
Ses e porquês, mas e talvez, teimavam em ficar
Questões de outras vidas vividas, por viver
E a água e o ar continuavam a varrer sem cessar

Agrestes e gélidos momentos no abrigo ocorreram
A sós tudo se torna árido e infértil dentro do nosso farol
No penhasco lançamos mensageiras garrafas a flutuar
Mas o neptuniano varrer trazia-as de volta ao raiar do sol

O Segredo é Acreditar, incessante este chamamento
Desde sempre transportado no herdado saber milenar
Procura e serás encontrado, encontra o que haverás procurado
E assim seria até ao dia da garrafa não mais voltar

Tempo de Encontro, tempo de sincronizar
Não voltaremos a nos procurar neste navegar
Tempo de Abrigo, tempo de querer Viver
Não voltaremos a nos perder neste estranho voar

Desta vez não trago presentes imensuráveis de novos mundos
Desta vez não possuo belos prados dourados para te ofertar
Desta vez não transporto poções mágicas de outros povos
Não, desta vez tudo isso ficou no seu de sempre lugar

Hoje trago apenas a simplicidade no olhar, no toque
O meu sorriso reflectido no teu brilho d’encantar
Neste sabor e aroma envoltos num uníssono ’Amore Mio’
Hoje trago apenas Todo o meu Eu para te entregar

Um dia farei de ti a pessoa mais feliz do mundo...



;) FerdoS ;)

(Sim, esta nova entrada é e será sempre para ti... Parabéns MPG)

terça-feira, 31 de maio de 2011

O Convento da Arrábida...

Lendas e estranhos rituais. Os arrábidos franciscanos... Os Espirituais!
As guaritas, quase (in)completas, nas poucas erguidas, um grande amor ao regresso nebuloso de El Rei D. Sebastião!
Os símbolos que Frei Martinho nos confidencia no rosto, nas mãos, na alma e no coração, sobre os seus pés, na esfera, em toda a sua devoção. 
A Província de Santa Maria da Arrábida. A ligação a Mafra e a Sintra. O Retiro. As Cavernas. A Casa de Palmela. As Ordens. Os Encontros. O Verde e o Mar.

Existem palavras e frases, fotos e personagens, sensações e deveres que nos deixam ainda a pensar... Mistério! Mas...sabem?!... As respostas estão exactamente neste lugar que tive o muy prazer de visitar. Vamos a um pouco de história...

O Convento da Arrábida, construído no século XVI, abrange, ao longo dos seus 25 hectares, o Convento Velho, situado na parte mais elevada da serra, o Convento Novo, localizado a meia encosta, o Jardim e o Santuário do Bom Jesus.
No alto da serra, as quatro capelas, o conjunto de guaritas de veneração dos mistérios da Paixão e algumas celas escavadas nas rochas formam aquilo a que convencionou chamar-se o Convento Velho.

O convento foi fundado em 1542 por Frei Martinho de Santa Maria, franciscano castelhano a quem D. João de Lencastre (1501-1571), primeiro duque de Aveiro, cedeu as terras da encosta da serra.
Anterior à construção, existia onde é hoje o Convento Velho, a Ermida da Memória, local de grandes romarias, junto da qual, durante dois anos, viveram, em celas escavadas nas rochas, os primeiros quatro frades arrábidos: Martinho de Santa Maria, Diogo de Lisboa, Francisco Pedraita e São Pedro de Alcântara.

D. Jorge de Lencastre, filho do 1º duque de Aveiro, continuou as obras mandando construir uma cerca para vedar a área do convento. Mais tarde, seu primo D. Álvaro, mandou edificar a hospedaria que lhe servia de alojamento e projectou as guaritas, na crista do monte, que ligam o convento ao sopé da montanha, deixando, no entanto, três por acabar.
Por sua vez, D. Ana Manique de Lara, nora de D. Álvaro, mandou construir duas capelas, enquanto o filho de D. Álvaro, D. António de Lencastre, mandou edificar, em 1650, o Santuário do Bom Jesus.

Com a extinção das ordens religiosas em 1834, o convento, as celas e as capelas dispersas pela serrania sofreram várias pilhagens e enormes estragos causados pelo abandono. Em 1863, a Casa de Palmela adquiriu o convento mas as obras só começaram nas décadas de 40 e 50 do século seguinte. Quarenta anos depois, em 1990, o seu então proprietário, Manuel de Souza Holstein Beck, vendeu o convento e a área envolvente, num total de 25 hectares, à Fundação Oriente, a única instituição, que, em seu entender, dava garantias de manter os mesmos valores com que, no século XVI, os seus antepassados o entregaram aos arrábidos.


Texto: Fundação Oriente / Fotos: CesarioL e FerreiraL / Magic by FerdoS

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Glass e os apóstolos...


O mestre e os seus seguidores.
Estreia na Casa da Música, para mim e provavelmente para este senhor também.
Minimalismo mais que esperado na Sala Suggia, por mim e pelas centenas (milhar?!) de seguidores.
O 'novo' profeta.

Se a música fosse uma religião, divina sim, então estaríamos na presença de um profeta.
Ele chegou, o céu escureceu e pouco depois uma voz superior por sim falou.
90 breves e eternos minutos. Sem terrenas pausas nem gélidos intervalos.
Ephemerol era servido fraternalmente pelos discípulos.
Philip e os seus discípulos.

A voz trazia paz, tranquilidade na melodia e uma estranha forma de entranhar. 
Algo fantástico e ao mesmo tempo de inquietar.
Falo contigo. Falo comigo. Falo com ele e com esse escuro céu.
A voz ali, parece agora surgir dentro de mim.
Intimista. Sereno. Perfeito. 
A Viagem faz-se simplesmente assim.

Percorremos estudos, metamorfoses, vórtices, corridas loucas e artífices...
Apenas tu. Apenas tu e eu.
A sala levantou-se e aplaudiu. 
Encore, encore e o templo renasceu.
Apenas... era uma vez...
Glass e os apóstolos. 

FerdoS

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Galeria dos Ofícios...


Se vos disser galeria dos ofícios muitos de vós dirão 'Qual delas? Que ofícios? Conheço tantas!', mas se juntar um pouco mais de requinte e escrever A Galeria dos Ofícios então já poderei ver alguns sorrisos por aí.
Aos que ainda duvidam resta-me apenas colocar alguns nomes cruzados e estranhamente familiares...
Leonardo da Vinci ou Sandro Filipepi, mais conhecido como Botticelli... Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio ou Ticiano Vecellio... Filippo Lippi ou Paolo di Dono, mais conhecido como Paolo Uccello... Pieter Paul Rubens ou Harmenszoon van Rijn Rembrandt... Albrecht Dürer ou... tantos e tantos outros.
Certamente que já se sente o calor de Itália, um sabor a Toscana, um aroma a Florença e um sussurro a Medici.
Bem-vindos à Galleria degli Uffizi!


Vamos a um pouco de história...
A Galeria Uffizi foi inaugurada em 1580 e é um dos museus de pintura e escultura mais famosos e antigos do mundo.
A colecção de arte Primitiva e da Renascença compreende obras-primas aclamadas, incluindo trabalhos dos ilustres senhores acima referenciados, entre muitos outros.
A sua história está intimamente relacionada com a da família Medici.
Quando Cosimo Primeiro de Medici chegou ao poder em 1537, com apenas 18 anos, demonstrou extraordinárias habilidades políticas e militares, e logo se tornou senhor de quase toda a Toscana, onde Florença era o centro do Estado.
Dada a importância de Florença, seria necessário promover um imponente desenvolvimento urbano.


Cosimo pediu a Giorgio Vasari, um dos principais pintores e arquitetos da época, que construísse um edifício para sediar os escritórios administrativos da Toscana, os chamados ofícios (uffizi). No seu andar superior, o Grão Duque Francesco Primeiro criou a Galeria Uffizi, que foi enriquecida por vários membros da família Medici, grandes coleccionadores de pinturas, esculturas e obras de arte.
A sua construção é cheia de detalhes, o que mostra a riqueza dos Medici. O prédio, em formato de ferradura, é formado por duas longas alas paralelas interligadas por uma pequena área que beira o rio Arno. Um dos terraços da Galeria foi transformado num jardim suspenso, onde a corte se reunia no fim da tarde para escutar música (inexistente actualmente).
Para facilitar o trânsito entre a sua residência, Palazzo Pitti, e a galeria, os Medici construíram um corredor que liga os dois terrenos, passando por cima do rio Arno e por dentro de vários outros prédios. O Corredor Vasariano, como ficou conhecido, era um indicador do prestígio da família Medici, que construiu a sua própria forma de chegar ao centro administrativo do ducado sem precisar de escolta para se deslocar.
Com o fim da dinastia Medici no século XVIII, a colecção foi doada à cidade e a sua exibição foi reorganizada pelos duques de Lorraine, que passaram a governar a Toscana, e posteriormente pelo próprio Estado italiano.


O Grão Duque Cosimo Terceiro expandiu o edifício no século XVIII, abrindo galerias para auto-retratos, porcelanas, medalhas e bronzes. O museu também tinha uma ala dedicada à história natural, onde eram exibidos animais empalhados, múmias, ovos de avestruz e chifres de rinoceronte. No fim desse século uma reorganização foi promovida de acordo com critérios iluministas e a parte relacionada à ciência foi separada da parte artística.
Na segunda metade do século XIX, a tendência em transformar Uffizi numa galeria de pinturas acentuou-se, muitas esculturas renascentistas foram transferidas para o Museu Nacional de Bargello e as esculturas etruscas foram para o Museu Arqueológico.
Em 1993 um carro-bomba causou sérios danos em várias alas da galeria, prejudicando também o Corredor Vasariano.
Em 1998 foi realizado um concurso para reformar a galeria e nos próximos anos pretende-se realizar uma expansão para que esta passe a ocupar todo o primeiro andar de Uffizi. Com isso, espera-se que o número de visitantes, que chega a 4.000 pessoas por dia passe para cerca de 7.500. O número de obras expostas também vai aumentar, passando de 1.200 para 2.000.
A reter ficará sempre que a Galleria degli Uffizi hoje em dia é uma das maiores atrações turísticas de Florença e um dos mais importantes museus do mundo.

FerdoS

(Fonte: Galleria Uffizi e Wikipedia)

sábado, 9 de abril de 2011

Message in a Bottle...


Verde floresta, amiga de sempre, 
de volta à clareira, junto todos os pedaços de madeira.
Lianas e trepadeiras, troncos e ramos, 
de volta à clareira, junto todos os achados.

Coloco-lhe um mastro, um novo rumo e uma vela, 
de volta à clareira, junto todos os sonhos.
Aguardo o vento, camisa como vela, 
de volta à clareira, junto uma porção de momentos.

A viagem tende a um inicio, a esperança torna-se desejo, 
de volta à clareira, junto raios de um novo amanhecer...

A foz soluçou e despediu-se. 
Lançados os búzios, a jangada da vida fez-se ao mar... 
Esse mar
 tão turquesa e tão vasto...

Os anciãos, os sábios, os Minóicos, chamam-lhe o centro da terra, 
o centro deste nosso universo, desta nova era, 
local de amores e desamores, de realidades e fantasias, 
diremos apenas... de Sonhos e Mitologias!

Fácil de soletrar, difícil de encontrar.
Navegando sobre um nascer matinal, ela segue o seu rumo
um destino sem destino, um novo porto, 
um crer no chamar, onde seja seguro atracar.

A viagem não foi dada por Cronos, existindo apenas momentos.
Rá aquece cada pedaço desse momento e que força ele possui!
A abundância na alma compensa a carência fisica, 
fome e sede segredam-me palavras rudes...

A linha de terra firme, é absorvida pelo fim do horizonte 
e a pelicula que cobre o meu corpo, muda ao poucos o seu tom.

Mesmo sorrindo, dentro de mim, sinto o teu sal e o teu sol... 

Deitado na húmida madeira, 
olho para a face reflectida no espelho aquático, 
vejo o presente, vejo esse sorriso nesta imensidão, 
vejo um forma esguia a aproximar-se... 

O momento pára! 
Parecendo uma pausa sem fim.

Serás...
Um peixe anjo voador?
Um unicórnio marinho?
Uma sereia familiar?

Ou apenas...
Uma mensagem numa garrafa largada ao mar.

FerdoS

Photo: Tela 'Message In A Bottle' 2010 by Fernando Serrano

quinta-feira, 17 de março de 2011

Mostra de Artes Plásticas em Setúbal


Mostra de Artes Plásticas em Setúbal
de 12 a 28 de Março 2011
edifício Aerset (ex-Banco de Portugal)
Av. Luísa Todi - Setúbal


Organização Artiset
Associação de Artistas Plásticos de Setúbal


Sejam bem-vindos...
...
Fernando Serrano

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Lugares Secretos


Há um lugar secreto dentro de mim...
Nele caminho pelas silenciosas madrugadas
Iluminado de estrelas refulgentes de luar
Procurando pedaços do horizonte que moram no meu olhar.

Um lugar onde a voz do silêncio canta-me melodias de encantar,
Onde o sussurro do vento desagua em meus pensamentos,
E com ele traz-me recordações perdidas no firmamento...
Palavras mágicas, floridas de suaves brisas...
E de doces e profundos enigmas por desvendar.

Lugar onde me perco nos recantos da alvorada
Colhendo estrelas de sonhos, flores só para mim...
Soltando versos que gotejam palavras de jasmim
Iluminando os corredores esbatidos da minha memória.

Lugar de estrelas...Recantos do mar...
Sonhos encantados...De mim...,
Lugar secreto de amor floreado no infinito
Por onde desfilam mistérios da minha história.

Lugar repleto de fadas, gnomos ou fantasias
Repletos de pessoas mágicas, seres reais,
Vindas de todos os lugares trazendo sorrisos...

Há!! Como eu gosto deste lugar secreto
Onde os sonhos se misturam com a realidade
E me perco na loucura de ser feliz.....


Tela 'Lugares Secretos' (parte) Fernando Serrano 2011 ©
Poema fotolog.com/strideer 2008 ©


                     FerdoS

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Botero Extra Large...


Tive a felicidade de o encontrar na Piazza della Signoria, em frente ao Palazzo Vecchio, e desde essa Florença de 99, nunca mais o esqueci.
...
“É importante saber de onde provém o prazer de contemplar um quadro. Para mim, é a alegria de viver combinada com a sensualidade das formas. É por isso que o meu problema é criar sensualidade através da forma.”
...
Ao combinar técnicas de pintura renascentista e barroca com a tradição colonial da América Latina, Fernando Botero cria um estilo de pintura figurativa que é universal no seu apelo. 
Capta momentos íntimos na vida, uma mulher a tomar banho, um jogo de homens ou uma família posando para uma fotografia, que representa o gordo, os números indiferente em cenas do quotidiano.
Em cenas do grupo, o artista frequentemente provoca o espectador, mostrando uma figura feminina nua, que faz lembrar a famosa pintura de Édouard Manet, Almoço na Relva.


Nascido em Medellín, na Colômbia, em 1932, Botero mudou-se para Bogotá em 1951, onde teve a sua primeira exposição individual na Galeria Leo Matiz.
Estudou em Madrid, na Academia de San Fernando, e em Florença, onde aprendeu as técnicas de afresco dos mestres italianos.
Em 1956, leccionou na Escola de Belas Artes da Universidade de Bogotá e viajou para a Cidade do México para estudar a obra de Diego Rivera e José Clemente Orozco.
Em 1969 o seu trabalho foi exposto no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e que estabeleceu a sua reputação como um grande pintor.


Nas suas formas arredondadas entende-se uma crítica social, principalmente no que diz respeito à ganância do ser humano. Cria esculturas e pinturas espalhadas pelos quatro cantos do mundo. E quem não se lembra da sua nova leitura de dois quadros famosos, O Casal Arnolfini, de Jan van Eyck, e Mona Lisa, de Leonardo da Vinci.
 ...
Actualmente reparte a sua vida por Paris, Nova Iorque, Monte Carlo e Pietrasanta.

FerdoS

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quando o sonho se vai...


Quando o sonho se vai... 
A estação floral chora a despedida 
E a outra caduca daqui não sai. 

Não sai e eu nada sei 

Quando a luz do dia 
Chora essa despedida 
No meu peito a noite cai. 

As preces desacertam acertos 

Quando me sinto fora de ti 
Em negros e trémulos joelhos 
A monção já faz parte de mim. 

FerdoS


Photo: 'Quando o sonho se vai', Moleskine sketch by FSerrano - 2011

domingo, 26 de dezembro de 2010

Autumn Tree in the Wind...


Não é particularmente bonito. 
Não tem cores vivas. 
Não tem um traço fino e cuidado. 
Mas é intenso e estranhamente profundo.

Quem me conhece sabe que adoro o Outono. Tal como a primavera, o Outono tem um encanto diferente, uma luminosidade que me inspira, um brilho que me alumia o ser. Apesar de termos colocado os primeiros passos no Inverno, temperaturas quase  negativas e muita chuva e trovoada que nos fazem desejar a hibernação, ainda estou Outonal. Sim, estou. 

Recordo a viagem à austríaca Viena e a visita ao Leopold Museum no elegante Museumsquartier. Recordo Klimt, Kokoschka e Schiele. Recordo esses instantes. Os prazeres, as palavras,  os sorrisos e o encontro com o aguardado ‘Autumn tree in the wind’. Já o conhecia mas, meus amigos, ao vivo é soberbo! 
Os tons de Outono pincelados num óleo que nos cicatriza a tela e a alma, numa profunda reflexão onde a viagem a nós próprios está garantida… 
O céu funde-se nos troncos, nas pernadas despidas do mundo exterior, onde apenas o nosso Eu parece prevalecer. Rugas do tempo parecem surgir dos tons cinza. No silêncio podemos ouvir o zumbido desse vento, a chuva que deseja chegar, a tempestade que tudo fará para que no horizonte possa cortar e rasgar. 
Engraçado, momentos Nossos numa centenária tela de um prematuro findo Egon Schiele.

Introspecção positiva necessita-se. Não apenas por aqui, mas também por aí e ali. 
Uma estação que nos pede para nos ouvirmos e colocar numa folha ou num pano cru, num palco ou num milhão de bits, uma sentida parte de nós. Chamemos-lhes inspiração, dádiva, criação ou reencarnação, não interessa a palavra mas sim o podermos partilhar esse nosso Saber estar. 
Intenso o seu olhar. E julguei ver escrito em rabiscos no cinzento céu:

‘Procuram-se emoções. 
Bons sentimentos, boas sensações, bons corações. 
Procuram-se boas emoções.’ 

Coloquei essa foto Outonal à minha frente e pedi ao Sam para tocar uma música que me pudesse inspirar… 
Arvo Pärt e o seu De Profundis, entretanto no piano, começaram a tocar…

;) Ferdos ;)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Maria Helena Vieira da Silva.

Nasceu em Lisboa em 13 de Junho de 1908...
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Uma das mais importantes pintoras europeias
da segunda metade do século XX.




Filha do embaixador Marcos Vieira da Silva, ficou órfã de pai aos três anos, tendo sido educada pela mãe em casa do avô materno, director do jornal O Século.
Tendo mostrado interesse, desde muito pequena, pela pintura e pela música começou a estudar pintura, a partir de 1919, com Emília Santos Braga e  Armando Lucena. Em 1924, frequenta as aulas de Anatomia Artística da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Em 1928 vai viver para Paris, acompanhada pela Mãe, indo visitar a Itália. No regresso começa a frequentar as aulas de escultura de Bourdelle, na Academia La Grande Chaumière. Mas abandona definitivamente a escultura, depois de frequentar as aulas de Despiau.
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"Era a única criança, numa casa muito grande, onde me perdia, onde havia muita coisa, muitos livros ... não tinha amiguinhas, não ia à escola...."
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Começa então a estudar pintura com Dufresne, Waroquier e Friez, participando numa exposição noSalon de Paris. Conhece o pintor húngaro Arpad Szenes, com quem casa em 1930, e com quem visitará a Hungria e a Transilvânia.
Em 1935 António Pedro organiza a primeira exposição da pintora em Portugal, e que a faz estar em Portugal por um breve período, até Outubro de 1936, após o qual voltará para Paris, onde participará activamente  na associação «Amis du Monde», criada por vários artistas parisienses devido ao desenvolvimento da extrema direita na Europa.


Regressará em 1939, devido à guerra, já que para o seu marido, judeu húngaro, a proximidade dos nazis o incomoda, naturalmente. Ficará em Portugal por pouco tempo, pois o governo de Salazar não lhe restitui a cidadania portuguesa, mesmo tendo casado pela igreja. Não deixa de participar num concurso de montras, realizado no âmbito da Exposição do Mundo Português, que também lhe encomendou um quadro, mas cuja encomenda será retirada.
O casal de pintores decide-se a ir para o Brasil, até porque as notícias sobre uma possível invasão de Portugal pelo exército alemão não são de molde a os sossegar.
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"Procuro pintar algo dos espaços, dos ritmos, dos movimentos das coisas."
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Em Brasil serão recebidos de braços abertos, recebendo passaportes diplomáticos, que substituem os de apátridas emitidos pela Sociedade das Nações, tendo mesmo recebido uma proposta de naturalização do governo.
Residirão no Rio de Janeiro até 1947, pintando, expondo e ensinando, regressando Vieira da Silva primeiro que o marido, retido pelos seus compromissos académicos.
É a época em que Vieira da Silva começa a ser reconhecida. O estado francês compra-lhe La Partie d'échecs, um dos seus quadros mais famosos. Vende obras suas para vários museus, realiza tapeçarias e vitrais, trabalha em gravura, faz ilustrações para livros, cenários para peças de teatro. 

Expõe em todo o mundo e ganha o Grande Prémio da Bienal de São Paulo de 1962, e no ano seguinte o Grande Prémio Nacional das Artes, em Paris.

Em 1956, foi-lhe dada a naturalidade francesa.

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"Às vezes, pelo caminho da arte, experimento súbitas, mas fugazes iluminações e então sinto por momentos uma confiança total, que está além da razão. Algumas pessoas entendidas que estudaram essas questões dizem-me que a mística explica tudo. Então é preciso dizer que não sou suficientemente mística. E continuo a acreditar que só a morte me dará a explicação que não consigo encontrar."
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...morreu em Paris em 6 de Março de 1992.

Fonte: A Arte em Portugal no Século XX 
FerdoS