O dia de S. Valentim ficou marcado por mais um episódio no já longo romance entre os Sigur Rós e os seus fãs portugueses. Depois do arranque da digressão no Coliseu do Porto, na noite anterior, esta quinta-feira foi a vez do público lisboeta voltar a enamorar-se pelo pós-rock tão singular e único vindo do frio islandês.
Durante quase duas horas, a arena do Campo Pequeno foi palco de um sem número de juras de amor vindas da plateia, sussurradas entre vagas de calma melódica e crescendos de distorção até ao êxtase que emanavam do palco. E, tal como há cinco anos na mesma sala, a caixinha de música chamada Sigur Rós aqueceu os corações dos já apaixonados seguidores.
Blindada por um ténue véu que transformou cada elemento em silhuetas musicadas, a banda islandesa apresentou uma novidade logo ao primeiro tema. A primeira de quatro novas canções estreadas nesta digressão, «Yfirborð» cumpriu o seu papel introdutório a um espetáculo audiovisual rico e com contornos épicos.
Na caixa de pano animada e colorida com projeções, Jónsi Birgisson, Goggi Hólm e Orri Páll Dýrason estiveram acompanhados por uma banda completa que incluiu secções de cordas e de metais, numa sobreposição perfeita de camadas sonoras.
Resgatada ao cada vez mais longínquo ano de 1999, «Ný Batterí» partiu da distorção das cordas rasgadas pelo arco de Jónsi - uma silhueta negra quase diabólica - e seguiu calmamente o seu destino até ao despertar rítmico da bateria de Orri.
Já a descoberto, cara a cara com uma plateia que encheu a arena para escutar quase silenciosamente cada melodia, os Sigur Rós foram reacendendo as paixões do público por temas mais antigos, como «Sæglópur» e «Hoppípolla», e saíram vitoriosos com novas conquistas ao som do recente «Varúð» (o único tema do último disco) e do novo e elétrico «Brennisteinn».
A corrida final desenfreada nos pratos da bateria em «Glósóli» também arrancou longos aplausos durante a primeira hora e meia de concerto.
No encore, um «Svefn-g-englar» cantado na voz quase angelical de Jónsi, e o crescendo até ao clímax explosivo de «Popplagið» foram as pinceladas finais num bonito quadro pintado com emoções que vão muito para além de qualquer barreira linguística entre o português e o islandês (ou o vonlenska, idioma criado pela própria banda).
E por isso mesmo, nem foram precisos muitos agradecimentos verbais, salvo um ou outro «thank you» vindo de Jónsi. As palmas e os sorrisos estampados nas caras de um lado e do outro diziam tudo. Foi uma boa noite no Campo Pequeno e mais uma história de amor com final feliz.
Words: João Carneiro da Silva / Photos: Zegenio, João Palma
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