sábado, 24 de novembro de 2012

Julião Sarmento em Serralves...


Todas as galerias do museu, a capela, a antiga Casa de Serralves e até alguns espaços exteriores: Noites Brancas, a maior retrospectiva de sempre de um dos mais importantes artistas contemporâneos portugueses, é uma exposição imponente. Mais de 160 obras marcando praticamente todo o território de Serralves, incluindo um conjunto de performances que o artista quer manter em segredo até à inauguração...
Não é a primeira vez que Julião Sarmento expõe neste museu do Porto, mas já se passaram mais de 20 anos e se o trabalho de Sarmento, no essêncial, se mantém idêntico, "Serralves mudou muito": "Está maior, mais glamoroso e tornou-se num dos museus mais importantes de Portugal, com fama internacional", diz o artista...


É certo que Julião Sarmento fez parte do grande movimento do regresso à pintura na arte contemporânea do pós-guerra e esteve presente na importante e histórica Documenta 7 de Kassel, comissariada em 1982 por Rudi Fuchs - justamente o acontecimento que marca esse regresso, Mas para o artista essa presença "foi uma contingência". Depois do abandono "fundamentalista" da pintura, há um retomar da tela e surgem as famosas telas de fundo branco de Julião, que ficam entre a pintura e o desenho. Trabalhos famosos talvez porque "constituam um momento de síntese" e por pertencerem a uma época em que o artista português teve "muita visibilidade", mas cuja popularidade ele "na verdade" não sabe explicar: "Talvez essas telas sejam muito reconhecidas porque não é normal um artista trabalhar sobre tela e fazer pinturas que não são pinturas, mas desenhos." Nesses trabalhos, Sarmento abandona a cor, a mancha e o modo de composição que até então tinha usado; no seu lugar surgem desenhos de mulheres em diferentes situações.


Sarmento tem em si profundamente gravada a consciência de cada peça. Trata-se de um saber a própria obra que confere singularidade e irrepetibilidade aos diferentes gestos, ideias, sentimentos e pensamentos que fixou numa tela, num desenho, num filme. Quando fala deixa ver que para ele não há "obras": cada obra tem um nome próprio e contém um tempo e uma vida de que não se quer libertar, que não quer esquecer.

Words by Ípsilon/Público

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