Porque também eu faço parte dela, como ela de mim, nas recordações de infância, na genealogia presente, na sua riqueza cultural e no sangue real que lhe corre nas azuis veias encorpadas num sublime rosa mármore... Hoje, uma encantadora sugestão de minha autoria. Bem-vindos a este nosso Real Alentejo Calipolense!
Vila Viçosa é uma bonita Vila Alentejana, sede de concelho, com uma rica história e um património invejável, sendo mesmo conhecida por Princesa do Alentejo.
Desde cedo ocupada pelo homem, Vila Viçosa apresenta vestígios arqueológicos desde tempos pré-históricos, tendo sido ocupada pelos romanos e muçulmanos até ser conquistada em 1217, durante o reinado do rei D. Sancho II. Foi em 1461 que Vila Viçosa viu enriquecido o seu território, ao passar a fazer parte do ducado de Bragança, e em 1502 inicia-se a construção do Paço Ducal de Vila Viçosa, o seu mais emblemático monumento.
Em 1910, com a Proclamação da República, Vila Viçosa caiu em franca decadência, devido ao objectivo dos republicanos em apagar todos os vestígios da monarquia, conseguindo contudo, já na década de 30, reerguer-se muito devido à exploração de uma das suas maiores riquezas: os Mármores, mas também ao início da indústria turística, abrindo-se o Paço Ducal com esse intuito. De facto, Vila Viçosa é conhecida mesmo internacionalmente pela abundância de mármore na região, nomeadamente o rosa, extraído e explorado a partir de mais de 160 pedreiras. Localizada numa das regiões mais férteis do Sul de Portugal, Vila Viçosa apresenta inúmeros monumentos de grande interesse, destacando-se o Castelo do século XIII, a bonita Igreja Matriz, a Igreja e Convento dos Agostinhos, os Conventos de Santa Cruz, Capuchos, da Esperança ou o renascentista Convento das Chagas, bem como as muitas casas apalaçadas decoradas com o tradicional mármore, e a grande herança manuelina por entre pormenores arquitectónicos da vila. A oferta museológica é também variada, com destaque para o Museu do Mármore, o dos Coches, o de Arqueologia e o de Arte Sacra, não esquecendo o Museu da Caça, que tanto se adequa a estas paragens, com a sua Tapada Real, o antigo couto de caça dos duques com um perímetro de 18 quilómetros, de grande beleza. Entre as várias personalidades naturais de Vila Viçosa, destaca-se a poetisa Florbela Espanca, precursora do movimento feminista em Portugal, e autora de fabulosas obras de arte, conseguindo levar a glória da Vila mais além.
Meio-dia. O sol a prumo cai ardente,
Dourando tudo…ondeiam nos trigais
D´ouro fulvo, de leve…docemente…
As papoulas sangrentas, sensuais…
Dourando tudo…ondeiam nos trigais
D´ouro fulvo, de leve…docemente…
As papoulas sangrentas, sensuais…
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o ouro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros…
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o ouro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros…
Tudo é tranqüilo, e casto, e sonhador…
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: onde há pintor,
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
(in No Meu Alentejo - Florbela Espanca)
FerdoS
(Photos by Marco Coelho e Carlos Silva)